Quando comecei a praticar Jiu-jitsu e defesa pessoal tinha a pueril expectativa de que estaria competindo e recebendo faixas. Não aconteceu desse jeito, mas aconteceu algo muito melhor: eu aprendi a desenvolver minha inteligência emocional para o mundo corporativo (e pessoal, por que não?).
Existe uma técnica básica para a defesa pessoal que se chama falsa rendição. A falsa rendição é a segunda tática que você pode usar na iminência de um ataque (porque a primeira é correr e gritar, se você puder, claro) e consiste basicamente em “enganar” seu agressor, transparecendo que você está rendida e que fará tudo conforme ele quiser. É o perder para ganhar.
Após declarar que está rendida (falsamente, lembre-se!), há uma empatia do agressor por você, pois ele acredita que você o compreendeu e que você, fragilizada, está em posição inferior a ele.
Curiosamente, após declarar a falsa rendição, o agressor faz o que chamamos de “reduzir a resistência” ou o famoso “baixar a guarda”. Nesse momento, quando o agressor para de colocar força, você tem maiores condições de contra-atacar, de conseguir fazer os seus movimentos e de se livrar da situação desfavorável.
Mas o que isso tem a ver com a inteligência emocional que havia mencionado antes?
Vamos lá: ocasionalmente, ao nos relacionarmos com nossos pares em nosso ambiente profissional ou nas mais diversas situações, fica difícil conseguirmos nos posicionar, pelo simples fato de termos nascido mulher. Não, não é exagero, é um fato. Existem diversas estudos que comprovam isso!
Por vezes, o outro (e "o outro" aqui não específico ser do gênero masculino) nos oferece agressividade em suas ideias e posicionamentos que não permitem que nós façamos qualquer movimento. Não nos deixam falar! Ministras Rosa Weber e Carmen Lucia que o digam...
Você fala para o seu adversário (ideia oponente ou as vezes complementar) mas ele não te ouve. Você tenta falar com o seu agressor (o famoso praticante de mainsplaning, manterrupting e afins) e não consegue. A falsa rendição consiste, portanto, na “falsa” empatia que você demonstra ter do posicionamento incisivo dessa pessoa, para que você ganhe espaço e possa se expressar, finalmente, sem resistência do outro.
Embora falar de Governança Corporativa e diversidade de gênero esteja na “moda”, nem todas as empresas conseguem adotar isso como cultura no seu dia-a-dia, portanto, enquanto as coisas não são como deveriam ser, vamos fazendo os movimentos necessários, ensinando aos “agressores” que não há mais espaço para esse tipo de comportamento.
Ao ser interrompida, por exemplo, podemos esperar o outro falar (falsa rendição) e após ele concluir, dizer: excelentes considerações, gostaria de me posicionar também sobre este assunto se você permitir.
E se quando cansada de ouvir duzentas vezes a mesma explicação (que você já entendeu!), ao invés de retrucar e continuar trocando resistência disser ao final: eu compreendo a sua preocupação em se fazer entender, mas fique tranquilo(a), você foi bem claro(a) em suas explicações, não é mais necessário que repita.
Simples ou polêmico?
Vale a pena perder para ganhar nessa situação?
(Publicado no Linkedin em 08/04/18)
Este é um artigo escrito, nitidamente, por quem já sentiu na pele a discriminação de gênero. Espero, num futuro próximo, estarmos (bem) longe disso!